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Cotidiano

Maíra rompe obstáculos pela literatura e fé

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Num momento está a infância. No outro aparecem as rugas da experiência. Se a vida passa num piscar de olhos para algumas pessoas, para Maíra de Souza Adão o tempo corre ainda mais depressa. O organismo dela não respeita qualquer um dos relógios que mantém na casa simples em que reside no bairro Liri, em Içara. Ainda criança, tinha órgãos em fase adulta. Debilitada e aposentada aos 21 anos, não enxerga mais. Também anda com dificuldade devido ao envelhecimento precoce provocado pela Síndrome de Berardinelli. Mas sonha como qualquer jovem. "Gostaria de conseguir uma editora para publicar meus livros. Quem sabe um dia eu chego lá", coloca.

“Sempre gostei de ler e tive ainda o incentivo da minha mãe. Ela dizia que se eu lesse, ganharia uma coleção de livros. Tomei gosto e passei a também escrever. Em 2009 deu certo o lançamento da primeira publicação [intitulada Márcia, uma história diferente]. Fiz pensando numa menina bem extrovertida que conheceu o namorado através das amigas. Após se casarem, eles vão fazer então missão fora. É um livro evangélico e simples com a ideia das pessoas sentirem a unção através dele”, relata.

“A segunda história está pronta. Se chamará Transformação Radical. É sobre um rapaz que é pressionado pelo pai. Para fugir do compromisso ele entra num projeto que vai ter na cidade, conhece um casal de idosos e a neta deles. Assim se aproxima também de Deus. Na verdade comecei a elaborar o material antes do primeiro livro. Mas teve um momento em que perdi tudo. Tinha mais de 100 páginas. Refiz e pretendo lançar dividido em duas etapas”, indica.

Após ter em mãos o primeiro livro e se formar na Escola Professora Salete Scotti dos Santos, Maíra também frequentou a academia universitária. Chegou ao quarto semestre de Pedagogia, mas desistiu devido a saúde debilitada. O empenho desde então está concentrado na viabilização da nova publicação. A história foi concluída cerca de dois meses antes de perder totalmente a visão. Os detalhes são preparados agora em áudio para que a irmã possa transcrever. Este será o mesmo processo que utilizará para finalizar outros romances literários que pretende fazer.



“O gravador era um desejo dela para que não deixasse de produzir. Ganhou do pai antecipadamente de presente já que o aniversário será dia 6 de agosto”, indica a mãe Nilceia Lopes de Souza. Atualmente no seguro-desemprego, ela complementa a renda costurando. Entre lágrimas, escuta Maíra contar a própria trajetória sem perder o sorriso contagiante. “Minha inspiração está em Deus, além da família que me dá muito apoio e está sempre ao meu lado”, relata a filha. “Sou a escritora mais orgulhosa do Brasil”, garante.

“Descobri a doença com oito anos em Florianópolis. Desde que eu nasci, passava muito mal. Comecei a ter reações diferentes. Disseram que eu não viveria além dos 13 anos. Teve momentos de revolta como todos têm. Mas tive amigos e professores bem compreensíveis”, lembra. “Por causa da perda da visão recente, outros sentidos se desenvolveram nos últimos seis meses. As vezes até fico enjoada do cheiro da comida. Está mais forte. Gosto quando é da pizza de frango que a minha mãe faz. Pena que tem que maneirar. Já consigo saber também quem está em casa pelos passos. Na minha memória guardo o rosto das pessoas. Quando falam comigo, reconstruo então a imagem”, pontua.