Dezenove de abril de 2014 será o tão aguardado “dia do sim” para Laise da Silva Homem, 23 anos, a namorada Akristian Moretti, 24, e para Neliton Langer Scheffer, 24, e o namorado Elvio Magnus Homem, 45 anos. O casamento é ainda mais especial porque Elvio e Laise são pai e filha, o que torna a cerimônia inédita no país.
A história iniciou em um passeio a Balneário Gaivota, em 2010, quando Laise, conhecida pelo nome de Gai Nox, trouxe Neliton e outra amiga para passar o fim de semana na praia. Os primeiros olhares foram trocados na despedida na rodoviária. “No mesmo dia Neliton me adicionou em uma rede social e começamos a conversar. Na troca de olhares eu já havia sentido algo por ele”, afirma Elvio.
Gai conta que na viagem para Caxias do Sul (RS) o amigo insistiu para que ela o apresentasse para o pai. “Ele havia pedido durante toda a viagem para que eu o apresentasse para o meu pai, mas eu não levava muito a sério e falei para parar, porque eu tenho muito ciúmes do meu pai”, lembra. Elvio sabia que havia um sentimento pelo rapaz e durante as conversas pelo computador os dois resolveram se encontrar.
“Marcamos um encontro onde rolou o primeiro beijo”, recorda. Mas, o preconceito ainda é grande e assumir o relacionamento foi ato bem pensado. Elvio é policial civil em Sombrio, foi vereador de Balneário Gaivota e líder evangélico, pai de três filhas e tem uma neta. “Minha preocupação era com minhas filhas; eu queria esperar uma ocasião para termos uma conversa antes que elas ficassem sabendo pelos outros” relata.
No entanto, Gai já tinha conhecimento do relacionamento do amigo com o pai. “Eu perguntava se eles estavam namorando e meu pai dizia que eram somente amigos”, conta. “Mas Neliton já tinha me contado quando conversamos sobre o assunto pela primeira vez e foi espontâneo”, relata a garota.
A história de Gai e Akristian também teve Balneário Gaivota como cenário e começou em 2011. Por ser DJ, Akristian visita várias cidades. Em uma apresentação no município do Extremo Sul, ficou hospedada na casa do pai, que mora na esquina em frente à casa de Elvio. “Nós conversamos e desde então estamos juntas”, afirma Gai.
No ano passado, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que permite a todos os cartórios do país celebrar casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Foi após a aprovação da resolução que, em tom de brincadeira, Neliton e Elvio começaram a comentar que iriam se casar. De tanto falarem, começaram a levar a ideia a sério e resolveram informar a família sobre a decisão. “Eu falei para Laise que eu e o Elvio iríamos nos casar e elas nos deram a ideia de realizarmos um casamento conjunto”, relata Neliton.
O casamento será realizado em Sombrio por um cerimonialista e vai ter cerca de 200 convidados, considerados íntimos para os casais. “Existem diversas dúvidas sobre o casamento, muita gente pergunta como vai ser, as pessoas acham que por se tratar de um casamento homoafetivo haverá extravagâncias. O casamento será da forma mais tradicional possível, como mandam os costumes, só que será realizado por um cerimonialista pelo fato de que nenhuma igreja realiza a união de duas pessoas do mesmo sexo”, ressalta Gai.
Elvio foi casado há 22 anos com a mãe de Gai e mantêm uma relação amigável com a ex-mulher. “Por conta da vida pública que levo fiquei com medo de assumir, tinha certa dificuldade de lidar com a situação, ficamos até afastados por um tempo até eu decidir ser feliz”, revela.
Gai conta que quando divulgou publicamente o casamento na rede social, muitas pessoas vieram até ela e disseram se havia necessidade de tornar a decisão algo público. “Eu penso que nossa história pode servir de espelho para muitos homossexuais que querem casar, assumir e têm medo do que irão enfrentar. É importante que as pessoas pensem no que é melhor para elas, na felicidade delas”, destaca Gai.
“Em nenhum momento as pessoas mudaram o comportamento comigo após eu me assumir, não sofri nenhum tipo de preconceito. Muita gente está pedindo conselhos à gente sobre seus relacionamentos. O que sempre falo é que, independente da sociedade e do preconceito, o negócio é ser feliz e estar bem consigo mesmo; a gente não vai se prender pelo que as pessoas pensam ou falam, nosso amor é correspondido e a gente é feliz, isso é o que importa”, salienta Elvio.
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