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Cotidiano

Zefiro Giassi: lenda na memória de Içara e inspiração empresarial, falece aos 90 anos

Velório será no Santuário de Içara a partir das 8h30

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Zefiro Giassi chegou aos 90 anos como personalidade de maior referência de Içara. Por onde atuou, deixou marcas positivas. Foi agricultor, professor, vereador, presidente da Cooperaliança e empresário. Era uma pessoa de muita fé e sua devoção esteve presente tanto na construção quanto na consolidação do Santuário do Sagrado Coração de Jesus, além da formação de novos padres. Contribuiu com causas sociais, esportivas, empresariais... E por tudo isso, tornou-se uma inspiração viva para gerações presentes e futuras. Virou uma lenda. Seu velório ocorre no santuário de Içara a partir das 8h30 e o sepultamento acontecerá no Cemitério Bom Pastor a partir das 17h.

Da lousa com rabiscos de giz à loja de secos e molhados até a construção de um dos maiores impérios do varejo catarinense, Zefiro colocou seus valores em tudo que fez e disseminou eles aos mais de 7 mil colaboradores distribuídos em 22 unidades das redes Giassi Supermercados e Combo Atacadista. De fala sempre empática, o empresário fez jus ao significado de seu nome: vento suave. Cada palavra que tinha a oportunidade de emanar era carregada de bons conselhos. Assim tocava cada um. E esses serão ventos que continuarão a soprar, agora, em altitudes ainda maiores.

Antes de partir nesta sexta-feira, dia 15, Zefiro recebeu grandiosos gestos de amizade, algo que valorizava. Um deles foi o título de primeiro sul-catarinense a tornar-se Personalidade do Ano em Vendas pela ADVB/SC . "Muitas lembranças me vêm agora, minha origem, meus pais e irmãos. No trabalho duro da roça, muitas vezes de escassez, tive os valores que me fizeram prosperar", compartilhou o empresário na cerimônia realizada numa comunidade carregada de simbologia: Morro Bonito, onde viveu com Ana Maria e lecionou.



Família e religiosidade

Filho dos descendentes italianos Angelo e Lúcia, Zefiro nasceu em 29 de junho de 1933 na comunidade de Ponta do Mato, em Içara. Entretanto, os registros oficiais ocorreram somente no dia 30. Padre Pedro Baldoncini, na época vigário, não permitia que um menino daquele dia tivesse um nome diferente aos santos da mesma data. Entre as opções estariam Pedro, Paulo ou José Cafasso... Mas ao pequenino, a escolha já estava feita: Zelfiro. O problema é que o titular do cartório de registro civil não entendeu direito a pronúncia. Escutou Zefiro e assim escreveu.

Apesar de não ter recebido nome de santo no batismo, a fé sempre foi um dos seus pilares. Para Ana Maria também. Ela chegou a manifestar interesse em ser freira carmelita em São Paulo. Mas a avó queria que a neta ficasse próxima. As rezas deram certo e a jovem conheceu então Zefiro na festividade de São João, em Primeira Linha. Começaram a namorar. Quase um ano depois, casaram-se. Residiram em Quarta Linha e na sequência mudaram-se para Morro Bonito, onde moraram na varanda da escola. Zefiro foi capelão e Ana foi catequista, coordenadora do curso preparatório para o batismo e ainda ministra da Eucaristia. Dessa união vieram os frutos: Rosália, Osni, Maristela, Mariléia e Rogério.



No local em que o casal começou a história familiar, a ideia era construir um abrigo para idosos, educandário ou então uma casa de recuperação para dependentes químicos. “Eu trabalhava com plantas medicinais e acreditava que poderia curar todos. Vinha todos os dias aqui e cheguei a conseguir 10 voluntárias. Mas resolvi deixar o terreno em nome de Deus”, coloca Ana Maria Zilli Giassi. “Recebia muito aqui o bispo Dom Paulo de Conto. E das conversas que tínhamos num quiosque surgiu a proposta então de uma nova morada para Deus num santuário”, completa.

“Não teremos nenhum empreendimento próximo, nem possuo imóveis próximos. Nossa relação com a comunidade é de amizade pelo carinho em que nos acolheram aos 18 anos. Pelo menos uma vez por semana ainda venho aqui na comunidade. Acompanho as obras, mas não interfiro. A construção é da Igreja”, afirmava Zefiro. “Foi um grande desafio por toda a programação e o tempo curto para execução. Vai ser um marco para toda a região. Se não tivesse o santuário, o asfalto não chegaria neste momento”, ressaltou o empresário duranta a obra ainda em execução.

"Nunca pensei na grandeza, sempre na qualidade"

Zefiro tornou-se professor aos 18 e por nove anos lecionou para séries iniciais. Nesse período organizou um sistema cooperativo para comercializar materiais escolares a preços mais acessíveis. Em 1960, montou uma loja de secos e molhados próxima a Praça da Matriz São Donato. Os tecidos logo foram substituídos por materiais de construção e a loja passou a oferecer gêneros alimentícios. Em 1968, abriu a primeira filial em Araranguá. E uma década após colocar o sonho empreendedor em prática, a rede deixou o atendimento de balcão para ingressar no autosserviço. Assim surgiu o primeiro supermercado Giassi.

"Foi através de planos Cruzados, de dificuldades e crises, que aproveitamos para inovar e crescer. Hoje não podemos pensar que somos grandes, mas muito além do que sonhávamos ser. Sempre os nossos projetos foram de passo a passo, dentro do possível, acreditando que o impossível não existe. E nós conseguimos, graças a Deus", ensinou em entrevista concedida em 2020. "Ser vencedor não é ter volumes ou grandes valores materiais, mas a essência, que é o ser e conviver com pessoas, que nos confortam, ajudam e abraçam a mesma causa", resumiu.



A história que virou livro

Em cada entrevista, Zefiro revelou um pouco de suas inspirações. Mas tantas histórias e memórias não caberiam numa página de jornal. Talvez nem mesmo em uma revista. Precisaram ser transcritas em livro, com 248 páginas, lançado em 2010. Conforme o autor, Archimedes Naspolini Filho, a obra Do Pó do Giz ao Supermercado foi um desafio proposto pela família e também colaboradores da empresa. “Foi um convite coletivo”, lembra.

“Há várias passagens interessantes. Uma delas, que me deixou profundamente impressionado, foi a narrativa do episódio que resultou na perda de sua vista direita. Nunca imaginara que ele seria cego de uma vista”, relembra ao descobrir o acidente da infância. “O mergulho nas dificuldades de um garoto da roça estudando no centro da cidade... As primeiras manifestações da sua vocação para o comércio, a evolução para o armazém e, depois, para o supermercado... A presença cotidiana de Dona Ana Maria... Não há como destacar, isoladamente, um capítulo. Gosto do Livro do Zefiro no seu todo. Foi um privilégio tê-lo escrito!”, ressalta.

“Sem dúvidas, o que mais me marcou no convívio com ele foi a simplicidade e a clareza com que conduziu o negócio em todo o tempo. Sua capacidade de contar os fatos que o trouxeram até aqui sempre foi admirável. Durante as conversas e entrevistas ele sempre foi muito atento e narrava o contexto histórico de cada época de forma detalhada. Sem contar na empatia, carisma, a generosidade que carregava. Já o admirava pelo convívio no trabalho, mas este trabalho foi uma oportunidade ímpar de conhecê-lo e de conhecer ainda mais sobre o surgimento e desenvolvimento de nossa cidade!”, indica uma das pesquisadoras, Taise Forgiarini.

Luz para Içara

Em 1939 Içara era apenas vilarejo. Todos se conheciam. E isso não é força de expressão, pois existiam pouco mais de quarenta residências na área atualmente central da cidade. Serralheiro, Antonio Rossi Fermo possuía uma caldeira movida a lenha que permitia a atividade de um gerador e atendia a comunidade. O equipamento também supriu a iluminação pública de parte das ruas Ipiranga e Marcos Rovaris até às 22 horas. Para esse serviço, o pagamento do operador da caldeira, também conhecido como foguista, e as demais despesas decorrentes da manutenção do sistema eram divididas entre os moradores.

Contudo, a queima do gerador, alguns anos depois, deixou a vila novamente às escuras. Não havia um técnico especializado para este tipo de equipamento. Alguns comerciantes chegaram a adquirir geradores próprios. Entretanto, a comunidade continuava sem abastecimento de energia elétrica. Em fevereiro de 1957 foi criada a sociedade Força e Luz Içarense para atender a sede da cidade. Isso limitava o crescimento de Içara. Era preciso levar a rede para outras localidades. A responsabilidade em tornar numa cooperativa para atender o restante do município coube a Zefiro Giassi. Em 1963, ele assumiu então como presidente da nova cooperativa e foi por mais uma vez eleito.