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Além da lenda, a coberta d´alma

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Possivelmente de origem judaica, é uma tradição dos antigos ainda praticada no litoral içarense. Há casos na Lagoa dos Esteves, Urussanga Velha, Pedreiras, Barra Velha, Praia do Rincão... Consiste numa cerimônia para quem morre, no sétimo do falecimento. A família procura alguém da idade próxima do morto. E, convidam-na para fazer a “cobertura d’alma”.

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É a personificação da identidade do falecido, por alguém próximo da família, no intuito de liberar a alma do corpo. Levam o convidado numa loja, compram todas as peças de roupa necessárias, inclusive íntimas. No sétimo dia à tardinha, então, todos se reúnem na casa do falecido.

Enquanto os demais familiares esperam na sala o convidado para cobrir a alma entra num quarto acompanhado de um familiar que vai entregando-lhe peça por peça da roupa dizendo alto para todos ouvirem: “Veste a camisa (cita o nome do morto); veste a calça (cita o nome do morto)”... Tudo em voz alta para ser ouvido por todos.

Já vestido, o convidado entra na sala, cumprimenta e abençoa os presentes. Se ele representa o pai que morreu, filhos e netos pedem-lhe a benção. Se foi uma criança, os mais velhos o abençoam. Se houver missa de sétimo dia todos vão à Igreja. Caso contrário, fazem algumas orações e se sentam para jantar.

A comida consiste nos pratos preferidos da pessoa morta, servida em doses generosas ao convidado, agradado por todos como se fosse realmente a pessoa morta que estivesse ali. Se tiver predileção por uma fruta o convidado deve comê-la. Se fumar o convidado deve fumar.

Terminado o jantar, um familiar de mais autoridade leva aquele que veste a coberta d’alma até a porta e olhando para o horizonte proclama: “Fulano (cita o nome do morto) tu já recebeste a roupa nova. Já recebeste o jantar. Já te demos de comer. Já te demos de beber. Já rezamos por ti. Já demos tudo o que tínhamos de dar. Vai com Deus, descansa em paz e deixa-nos em paz”.

Durante toda a cerimônia, o convidado é chamado pelo nome do morto. A cerimônia encerra-se. Estabelece-se uma forte relação entre a família e o convidado que passa a ser moralmente da família. Se o pai morreu, os filhos consideram-se filhos de quem vestiu a alma, visitam-se mutuamente, ouvindo inclusive as opiniões um do outro sobre os assuntos familiares.

Segundo algumas pessoas, a alma do falecido permanece na terra e na casa até a cerimônia. A alma fica perambulando, vagando pelos arredores até a coberta d’alma ser feita. Se a cerimônia não for feita a alma ficará vagando, não encontra a paz nem deixa ninguém em paz. Depois a cerimônia a alma está livre para encontrar seu caminho no além. É praticada por várias famílias brancas e negras, ricas e pobres do litoral de Içara.