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Indiferente de classe, mô nego

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Miúdo e curtido do sol. Lá ia ele molemente jogar a tarrafa no mar. Deixava as ondas passarem, e com extrema perícia jogava a tarrafa. Pegava papa terra o ano inteiro e no inverno apareciam as tainhas.

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Quando eventualmente o peixe teimava em não aparecer, ele escavava a areia e tirava de lá uns enormes mariscos brancos, de casca fina. Jogava dentro de um balaio de vime que carregava sempre nos braços e lavava na água do mar.

Mô nego era de uma importância fundamental para se chegar à praia do Rincão. Todos o cumprimentavam. Sua casa ficava em meio aos últimos arbustos, depois de atravessar o morro da Pedreira e antes de se chegar às dunas. Era uma bodega onde vendia cachaça, sal, fósforo, palha para o cigarro e fumo de rolo picado.

Depois dali eram os famosos combros de areia. Uma cordilheira de dunas que constava até nos livros de geografia europeus. Antes das dunas havia uma porteira. Os carros esperavam a porteira ser aberta depois da verificação da trilha. Os fortes ventos transladavam a areia de um lado para outro e em cima das dunas eram colocadas esteiras e tábuas, permitindo assim a passagem dos veículos.

Podi passá, mô nego; dizia ele, ao motorista, fosse quem fosse. Doutor, rico, pobre, branco ou negro para ele era tudo mô nego. Sempre dava informações do vento, da areia, arrumava as tábuas, transava esteiras e ajudava a desatolar os carros dos infelizes que saiam da trilha.

A porteira era sua propriedade, e as tábuas; sobre a areia era ele quem colocava. Cobrava para abrir a porteira e todos pagavam porque sem as tábuas era impossível chegar até a praia. O vento batia forte. As árvores, para barrar o vento, foram plantadas muito tempo depois. As árvores e o desaparecimento da pedreira modificaram o espaço geográfico.