Cotidiano | 18/06/2011 | 10:17
Na hora do trem...
Derlei Catarina De Luca - derlei.deluca@canalicara.com
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A missa aos domingo era a oportunidade de ver gente, flertar, namorar, mandar e receber bilhetes, ver amigos, calçar sapato novo e exibir o vestido. O Cine São Donato, pequeno cinema de madeira, com sessão as quartas e sábados à noite e domingos a tarde era uma diversão só. Mais pela bagunça do que pelos filmes, que eram invariavelmente de caubóis, onde os norte-americanos eram os mocinhos e os índios peles vermelhas, os bandidos.
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Na hora em que os mocinhos perseguiam os índios o cinema vinha abaixo. A gurizada batia os sapatos no chão com tanta força que o cinema estremecia. Não se ouvia absolutamente nada do filme. Mas era divertido. À tarde, meninos e adolescentes caminhavam até a Linha Três Ribeirões para banharem-se nas águas rasas do rio. Poucas meninas atreviam-se a acompanhar os irmãos e mesmo assim não se banhavam. Apenas para ver.
Depois passavam nas casas dos agricultores, colhiam frutas, enchiam os cestos de araçá, gabiroba e laranja crava. A tarde passava rápido. E já era hora de tomar banho caprichado para ver o trem. O trem passava as 17h45 e ninguém perdia a passagem do horário.
Rapidamente, todos ficavam lindos e faceiros esperando o trem passar. As moças mostrando seus melhores vestidos sentavam em frente à loja de secos e molhados da família Lima. Enquanto isso os rapazes permaneciam em pé, perto da estação. O trem ia de Araranguá a Imbituba e aos domingos passava lotado. Meninos vendiam água, cocada, pé de moleque e milho verde cozido. Eles entravam nos vagões e saltavam com o trem já em movimento.
Era um momento solene. O trem apitava na Corda Bamba, as moças levantavam, os rapazes se agitavam como se todos fossem viajar. Bufando, espalhando fumaça pra todos os lados, o trem apontava na curva e arrastava as rodas até parar. Pessoas saltavam, pessoas embarcavam. A maioria estava ali só para olhar. Podiam acertar os relógios. O trem passava pontualmente as 17h45. Por isso mesmo era chamado de trem horário.
O maquinista pegava um arco entregue pelo chefe da estação, tirava um bilhete com as ordens escritas e jogava o arco de volta. Os pequenos corriam atrás do arco para devolvê-lo ao chefe da estação. Namoros começavam e terminavam na hora do trem. Festas eram combinadas, convites eram feitos, encontros eram marcados. Tudo no horário do trem. Quando ele partia uma sensação de perda tomava conta. Acabava o domingo.




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