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Cotidiano

O primeiro morteiro na Festa de São Donato

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Abílio Cardoso não quis saber de roça, nem de farmácia. Era um mecânico de primeira. No seu barracão enorme, de madeira, ao lado do trilho, tinha de tudo.

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Tinha forja, torno mecânico e muitos materiais que se poderia precisar. A maioria dos instrumentos era feita por ele mesmo. Recolhia e aproveitava os pedaços de ferro, deixados na Ferrovia Teresa Cristina. Como morava perto do trilho, era fácil recolher a sucata. Todo dia encontrava alguma coisa e guardava.

Arrumava motor, caminhão ou carro que aparecesse. Arrumava ferro de brasa, fazia foice, forjava facão. Inventava todo tipo de ferramenta. Forjava os machados, o senhor João Zacarón fazia os cabos e vendia para os lenhadores. Muita gente ganhava a vida cortando eucaliptos, vendidos para a Estrada de Ferro.

João Zacarón morava em frente à oficina e, naquele ano, seria padrinho de uma novena de São Donato. Estava feliz e orgulhoso. Queria que sua noite, como padrinho, fosse memorável. Ainda não existiam foguetes comprados prontos e ele encarregou Abílio para alegrar a festa, queimando um pouco de pólvora. Pólvora era fácil de conseguir, todos os mineiros tinham acesso e naqueles tempos não era controlada.

Com uma sucata de ferro, tipo cano, que caíra de um vagão do trem, Abílio construiu um morteiro. Fechou uma abertura com uma sapata e o aparelho ficou parecendo uma bota. Carregou com pólvora, colocou bucha de papel e socou tudo com ferro. Ao anoitecer levou até a igreja.

No pátio da igreja, várias pessoas arrumavam as barraquinhas. A novena começava, E, dentre o sermão do padre, os cantos do Coral e as rezas demoraram mais de uma hora. Na primeira tentativa ,botou fogo no morteiro que se enterrou no barro. Chateado Abílio desenterrou o morteiro. Ainda bem que o barro era mole. O tiro deu certo, mas ele achou muito monótono.

Resolveu colocar o morteiro de cabeça para baixo. O morteiro fez um barulhão, subiu ziguezagueando, assustando algumas pessoas e caiu a três metros da Igreja, outra vez no barro. Se caísse sobre a Igreja podia causar um desastre.

Na terceira tentativa, Abílio resolveu não arriscar. Colocou o morteiro dentro do banheiro de madeira que havia ao lado da Igreja. O objetivo era apenas fazer barulho e dentro do banheiro, ele imaginou que não haveria perigo.

Quando começa o canto final da novena, Abílio botou fogo no material. As pessoas já estavam começando a sair da Igreja. O morteiro deu um belíssimo estouro, levantou, arrebentou o banheiro, e saiu ziguezagueando pelo céu. Voou tábua para tudo que foi lado. Espantou os cavalos que arrebentaram as rédeas, os fiéis saíram atrás dos cavalos e o senhor Zacarón mandou Abílio embora antes que detonasse a igreja.