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Cotidiano

A queda que fez história em Içara

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Um hidroplano com dois tripulantes fez um pouso forçado, em função de problemas mecânicos na Lagoa dos Esteves, em Içara por volta de 1920. Os dois pilotos, o inglês John William Pinder e o brasileiro Aliatar Araújo Martins, morreram no local antes mesmo de conseguir consertar o aparelho. O fato repercutiu muito na época, inclusive internacionalmente. Mas, ainda faz parte da lembrança de alguns moradores mais antigos daquela região.

Um deles é o empresário Otávio Prudêncio Vianna, que conta que o assunto era relatado pelo avô aos netos com riqueza de detalhes. “Imagine naquela época quando os moradores não conheciam carro, ver de perto um avião dentro da água. Não se falava em outro assunto e os moradores ficaram muito assustados com a situação”.

Seu Otávio nasceu em 1932, e conta que seu avô Thomaz da Silva foi um dos moradores que ficou aproximadamente dezesseis dias no mato escondido dos homens da aeronáutica que vieram até a lagoa investigar o sumiço dos pilotos. “Eles queriam saber a causa do desaparecimento, pois o hidroplano foi encontrado na beira da lagoa e os corpos desapareceram. Diziam que os homens da comunidade tinham que dizer onde estavam senão iam matar todo mundo. Por isso, se esconderam no mato”.

Para comer, Thomaz assoviava perto de casa e a esposa levava a comida para ele. As mulheres permaneciam em casa com as crianças, elas não tinham medo, já que as ameaças eram mesmo para os homens da comunidade. Tudo se acalmou e a vida dos moradores voltou ao normal somente dias depois quando os corpos apareceram boiando no meio da lagoa. “Meu avô contava que os homens entenderam que os dois sofreram acidente, pois um deles tinha o braço quebrado, em função de o hidroplano ser tocado a manivela, ele poderia ter ido consertar e o outro tentou salvar e caiu junto”, relata Otávio.

Naquela época, Lagoa dos Esteves, ainda integrada a comunidade de Urussanga Velha, pertencente à cidade de Araranguá foi destaque em importantes jornais da Inglaterra. Em seguida a comunidade foi batizada com o nome do piloto brasileiro Aliathar Martins.

Entre todas as histórias contadas pelo avô, o que mais impressionou o menino Otávio foi a coragem de Justino. Em uma época em que o preconceito racial entre os homens era muito grande, foi um homem negro, um dos mais pobres da comunidade, o único que não fugiu e não demonstrou medo na hora do fato que abalou todos os moradores.

Aos 78 anos de idade, pai de três filhos e com o único bisneto no colo, seu Otávio conta os relatos ouvidos durante sua mocidade e declara que Justino foi muito corajoso. “Ele era o homem que conversava com os homens da aeronáutica e com os mergulhadores que buscavam os corpos dos pilotos. Só ele transmitia as informações aos moradores que se escondiam no mato com medo de represália”, conta ele.

Os homens da aeronáutica passaram cerca de dez dias investigando a situação e procurando os corpos e Justino esteve ao lado deles a todo o instante. Os dois pilotos são donos dos primeiros corpos que ocuparam o cemitério da Lagoa dos Esteves, mas não o atual. Era ainda o que ficava perto da Igreja de São Jorge. Alguns anos depois, as famílias vieram até o local e fizeram a transferência dos restos mortais.