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Cotidiano

Casa Rosa: um refúgio de acolhimento e busca pela cura

Espaço auxilia mulheres içarenses na prevenção e no tratamento contra o câncer

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Um sorriso, um olhar, um abraço, é assim que as mulheres que frequentam a Casa Rosa são acolhidas quando chegam na sede da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Içara. Esse acolhimento é feito todos os dias pela recepcionista Rita de Cássia Crescêncio, de 64 anos. A vida dela é mais um daqueles casos que podiam ter um final triste, mas que com muita luta hoje é uma história de superação. Ela venceu um câncer de mama e é espelho para outras mulheres que estão passando pela mesma doença.

Rita descobriu o câncer na pandemia da covid-19. Trabalhava em uma unidade hospitalar quando em um plantão encostou o braço na parede e sentiu um leve desconforto. No mesmo momento ela já pediu auxílio de um colega para avaliar e em seguida fez alguns exames. Logo veio a confirmação: era câncer.

Em sua gaveta, na mesa de trabalho, estão lá, duas fotos. Uma sozinha, quando estava careca, e a outra que considera mais significativa, sua neta beijando a sua cabeça sem cabelos. “Eu já estava pronta para me aposentar quando descobri o câncer, então resolvi me afastar para o tratamento. Um dia fui convidada para ser voluntária em um pedágio da Rede e assim fui ficando. Foi do meu jeito prestativo que logo veio o convite para eu ser a secretária da Casa. Aceitei na hora", conta.

"Hoje sou a porta de entrada quando as mulheres chegam aqui para uma consulta de rotina, ou às vezes quando elas já chegam com o diagnóstico. Eu amo o que eu faço, atender bem as pessoas, conversar, orientar, afinal eu sei o que elas estão passando”, completa. Há quase três anos a Casa Rosa de Içara é este refúgio de esperança e acolhimento para as mulheres que lutam contra o câncer de mama, de colo de útero e ovários. No espaço elas encontram muito mais que um abrigo físico, descobrem a solidariedade, a amizade, a sororidade e a força coletiva que é preciso para enfrentar a doença.



Um sonho que virou realidade

O sonho da grande sede saiu do papel pela batalha de um grupo de mulheres, todas voluntárias da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Içara. A luta pela construção do espaço começou em 2015, quando receberam a doação de um terreno por parte da Prefeitura Municipal, na Rua João Menegaro, número 1185, para que ali fosse erguida a nova sede da entidade, que por muitos anos funcionou dentro do Hospital São Donato.

“A primeira coisa que fizemos foi buscar parcerias para realizar o projeto arquitetônico, e com a graça de Deus conseguimos. Com o projeto pronto vimos que a missão de arrecadação de dinheiro seria intensa. Começamos vendendo rifas, camisetas, realizando nosso Chá Cor de Rosa, foi aí que com muita fé recebemos algumas emendas de deputados e doação do Governo do estado e do Ministério Público do Trabalho. Depois disso começamos a obra que durou um ano e seis meses, com um investimento de aproximadamente R$ 1,3 milhão”, revela a presidente da Rede Feminina de Içara, Neci Maciel Grave.

A história da presidente com a Rede é um pouco diferente da de Rita, mas as duas se unem em uma única causa, auxiliar as mulheres que passam pelo câncer e buscam a cura. Neci iniciou sua vida de voluntariado há 32 anos, mas no Rio Grande do Sul, na cidade de Ibiruba. Assim que chegou a Içara em 2009 resolveu continuar a vida de doação ao próximo.

“Eu tive 10 casos de câncer na minha família. Perdi uma cunhada, que era como irmã para mim, depois foi a minha sogra, minha comadre, um sobrinho e assim foi, em um curto tempo de quatro anos. Foi um momento muito difícil, então encontrei forças no voluntariado”, relembra.

Inaugurada em 20 de dezembro de 2020, os atendimentos iniciaram no ano seguinte, no dia 23 de janeiro de 2021. Inicialmente eram realizados apenas o exame papanicolau, depois foram ampliando os serviços. Desde o seu início já foram aproximadamente 27 mil atendimentos realizados, incluindo também ultrassonografia, coletas de biópsias, consultas, fisioterapia, psicologia, reiki, dentre outros.

“Atualmente a Rede Feminina de Içara é conhecida nacionalmente como uma das melhores do país em números de atendimento e auxílio no desafogamento das unidades de saúde do município”, afirma.



Coworking social

Dentro da Casa Rosa existe uma sala para a Associação Beneficente Berço dos Anjos, que auxilia famílias carentes com enxovais para bebês. Já outra sala é cedida para a Associação Amigas do Peito de Içara (Ampi). No espaço existem perucas e lenços que são emprestados as mulheres que ficam carecas com o tratamento contra o câncer. Neste ano, com o apoio do Fundo Social da Sicredi, a Ampi adquiriu ainda um pneumocompressor. O equipamento é usado para amenizar um dos efeitos da mastectomia, que é a retirada total das mamas. O aparelho fica dentro da Rede Feminina a disposição das pacientes.



“Aqui dentro temos diversos atendimentos como o exame papanicolau realizado pelas enfermeiras, atendimento médico, radiologistas, psicóloga, mastologista, todos profissionais extremamente capacitados para atender quem necessita de tratamento. Temos ainda o apoio da Unesc, os alunos de medicina oncológica atendem de forma gratuita com auxílio de um professor. Os custos fixos para manter a estrutura de 850 metros quadrados atualmente é de R$ 45 mil reais. Conseguimos manter o espaço com convênios e captação de recursos de entidades públicas e privadas”, disse.

Outubro Rosa e o reforço na prevenção

Todos os anos o país reforça a importância da prevenção e dos cuidados da mulher com a saúde no mês de outubro. Na rede feminina de Içara não é diferente. Em outubro, todas as quartas-feiras até às 20h e nos sábados até às 12h, o grupo abriu a Casa em horário estendido para atender aquelas trabalhadoras que não conseguiram frequentar o espaço em horário normal de atendimento, que é de segunda a sexta-feira das 7h30 às 12h e das 13h às 16h30min.

“Em outubro sempre aumentam os atendimentos por conta da campanha de conscientização. Hoje quando uma mulher chega aqui na Casa Rosa, conseguimos fazer todos os exames, seja um ultrassom, biópsia, e em parceria com a Secretaria de Saúde do município encaminhar em até 20 dias a paciente para o tratamento na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) do Hospital São José”, observa a presidente da Casa.



Um estudo realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que o Brasil deve registrar 704 mil novos casos de câncer por ano até 2025. “Santa Catarina é o estado que mais realiza prevenção, ao todo são 80 Rede Femininas e 6,5 mil voluntários que se dedicam a causa. A prevenção é importante, mas a pessoa precisa vir, ninguém vai poder fazer o exame por ela. Sempre digo, a cura gira em torno de três pilares, Deus, família e medicina”, avalia.

O apoio fundamental para a cura

Muitas mulheres passam pela Casa Rosa diariamente, como Marlene Calegari Corrêa, de 55 anos de idade, que descobriu um câncer de mama em abril deste ano, em exames de rotina. “Em maio fiz a cirurgia, em agosto comecei a quimioterapia. E para fechar este outubro rosa, fiz minha última quimio. Em dezembro vou começar as sessões de radioterapia. As mulheres que estão passando por um tratamento oncológico necessitam de uma rede apoio. Há três meses eu me sinto acolhida na Casa Rosa, tenho o apoio físico e psicológico que tanto necessitamos neste momento”, revela Marlene.

Marlene é daquelas pacientes que aproveitam os diversos serviços que a entidade oferece. “Nas quartas-feiras faço fisioterapia para me manter ativa e em movimento. Mesmo naqueles dias pós quimioterapia, que estou indisposta, vou e saio de lá bem mais animada. Já nas sextas-feiras faço terapia, que muito me ajuda a passar por este tratamento. Ter um profissional que eu possa conversar, falar dos meus sentimentos, das minhas angústias, faz com que eu me sinta menos ansiosa”, expõe a paciente.

Voluntariado por amor

A Rede Feminina de Içara teve o seu início no dia 25 de junho de 1991 quando aconteceu a primeira reunião para implantação idealizada pela senhora Maria Terezinha Canto Gastaldon, tendo como primeira presidente a senhora Delçonir Maria de Freitas Lodetti. Para abrir as portas, o espaço precisa de voluntários, pessoas que possam se doar ao menos uma manhã ou uma tarde de trabalho a cada 15 dias. Atualmente o grupo de voluntários da Rede Feminina de Içara é composto por 40 mulheres que participam das ações de captação de recursos e, dentre elas, 25 fazem plantão na Casa.

Um destes exemplos é o de Daria Réus, 66 anos de idade e 23 anos de voluntariado. “Nunca passei por um câncer, sempre fui dona de casa, um dia uma vizinha minha me convidou para fazer parte eu vim e aqui estou até hoje. Vir para Casa Rosa é uma alegria semanal para mim. Acabamos nos apegando as pessoas que por aqui passam. Não pretendo largar nunca o trabalho voluntário aqui”, salienta Daria.

O trabalho feito pelas voluntárias é reconhecido pelos pacientes que frequentam a Casa. “Eles são muito atenciosos, queridos e acolhedores. Transmitem tranquilidade e conforto para nós mulheres que estamos passando por esse processo. Sou grata a Rede Feminina por me proporcionar todo tratamento gratuito e humanizado que estou recebendo nesse momento”, finaliza Marlene, que é paciente da Casa há três meses.



Quem deseja doar o seu tempo para o apoio a causa pode procurar a Rede em seu endereço ou ainda nos telefones (48) 3432-3461 e (48) 99912-5222. “Precisamos abrir as portas e ter alguém aqui para receber essas mulheres que nos procuram. Ajudar o próximo faz tão bem para a gente, tudo que fizemos para o outro volta para nós”, concluiu Neci, presidente da Rede Feminina de Içara.