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Em Esplanada, um local de amor e muita fé

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Irmão Ramos faz parte do folclore do bairro Esplanada, em Içara. Ele é conhecido pela evangelização através de bilhetes e inscrições que cobrem toda a tenda no acesso a comunidade, inclusive as calçadas. Muitas delas são consequências de histórias do próprio local. Os textos de fé, amor, paz e união formam um cenário cheio de cor que começou a ser construído há 20 anos digno de registro entre os visitantes. “Há vários corações também. Já perdi a conta”, ressalta.

O local pitoresco é parada diária de dezenas de motoristas interessados no suco de butiá. Trata-se da especialidade de Ramos Martins, natural de Esplanada, mas atualmente residente em Morro da Fumaça. Basta parar o veículo ou buzinar para ser atendido. Enquanto espera os clientes, ele se dedica então aos louvores no rádio, a Bíblia que mantém sempre próxima para a leitura, além do caderno com a inscrição de novas frases para pintura.

Nos espaços de terra que restaram próximos a tenda há também alface, cebolinha, beterraba, salsinha, abobrinha, moranga e tomate. Tudo para venda. “Sirvo e Deus. Meu objetivo é ganhar almas para Jesus. Quero transformar este local em um espaço de culto para crianças. E pretendo montar de novo ainda o parque que tinha aqui”, coloca, aos 52 anos, casado com Lucélia Constante Matos, que conheceu em 2006 na tenda construída por ele.

Edificação foi o primeiro recomeço

Ramos Martins parou os estudos na quinta série para trabalhar na lavoura de mandioca, feijão e fumo. Atuou também como industrial, servidor público e vendedor. Mas o sonho era ser jogador de futebol. Como não foi possível carreira nos gramados, o sustento acabou garantido com a venda de caldo de cana e melancia na margem da BR-101 em Esplanada em meados de 1991. Na época, com 27 anos, frequentava também rodeios.

Devido ao descontrole financeiro, Ramos chegou a perder veículos e um bar que tinha na comunidade. Resolveu ir para Florianópolis e por lá ficou durante dois anos. “Eu lucrava com os engarrafamentos. Morei na minha própria barraquinha até o dono de um CTG me ajudar. Consegui pagar minhas contas e voltei com meu carrinho. Fiz um toldo, comecei a construir, tentaram até embargar, mas eu continuei. Nestas provações, fortaleci minha fé”, ressalta.

Uma nova vida após a recuperação

As mensagens de evangelização não estão apenas nas paredes e nas calçadas. Elas são entregues também em folhetinhos junto com os sucos. Além disso, Deus está em quase todas as frases do vendedor. Ramos se apresenta como um milagre e faz de cada passagem de dificuldade na vida um testemunho de fé. “Fiquei entre a vida e a morte aos 31 anos. Para os médicos eu não tinha mais solução”, afirma.


“Eu era bom de bola. Jogava sempre. Minha mãe pedia para eu parar. Mas dizia que só iria parar quando eu morresse. Já quebrei as duas pernas. E tive uma lesão no abdômen em jogo que me levou para o hospital por 88 dias. Chegaram a mandar preparar o meu caixão. Falaram que eu precisaria da décima operação. Fingi que iria ao banheiro e fugi desesperado sem pensar aonde ir. Conseguiram me impedir e pedi a morte naquela sexta-feira”, relata.

“Deixei na mão de Deus. Não conseguiram operar naquele dia e chamaram uma equipe médica para fazer na segunda-feira. No mesmo final de semana a infecção parou”, relembra. Inspirado pela recuperação, Ramos decidiu ir ao encontro do padre Marcelo Rossi em São Paulo. Fez mil folhetinhos para distribuir durante o jogo em que o religioso seria goleiro no Estádio do Morumbi em 2006. Neles estava que “Deus não faz a obra pela metade, faz completa”.

Ramos chegou na véspera, dormiu embaixo de uma árvore próximo de usuários de droga e conseguiu entrar no local do evento. “Eu vestia a camisa do Criciúma que recebi de presente da família do Mahicon Librelato”, detalha. Em meio a 72 mil pessoas, ele chamou atenção do padre e obteve um abraço. Em consequência da aparência sem cuidados, ele conta que ganhou também esmolas do público. Começou a chorar e desanimou por causa disso.

“Eu não havia ido para mendigar. Só consegui assistir ao primeiro tempo. Quando sai, deu um vendaval. Não sabia para onde ir. Pedi socorro e fui para uma parada de ônibus. A mulher que estava no local achou que eu iria assaltá-la. Fui para a rodoviária e dormi no chão. Um guarda me abordou , contei o propósito da viagem, ele encaminhou para a Assistência Social e conseguiram uma vaga no albergue. Chorei naquela noite”, aponta.

“Eu tinha pouco dinheiro no bolso. Com uma parte comprei o almoço no outro dia. O restante usei para a passagem até a casa de uma irmã em Curitiba (PR). Deus falou através dela e passei a frequentar os cultos, no começo, com um pouco de restrição. No dia 30 de abril aceitei Jesus de corpo e alma. Era meu aniversário. Recebi a mensagem de que retornaria para o meu local. Desde então, tudo se concretizou”, pontua.

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