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Cotidiano

Joaquim: 25 anos de história ferroviária

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Em 4 de junho de 1965 Joaquim Trajano dos Anjos foi até Tubarão para ter a Carteira de Trabalho assinada pela primeira vez. Estava sacramentada ali a profissão que seguiria pelos próximos 25 anos ao longo da Ferrovia Tereza Cristina. Foi da manutenção da linha férrea que conseguiu sustentar a família com Maria de Lourdes Brígido dos Anjos. O matrimônio rendeu 10 filhos, sendo que dois deles já morreram. Atualmente com 73 anos, tanta história está vívida na própria memória e transpassa gerações ao ser resgatado o passado de Içara.

Ainda no tempo da Maria Fumaça, Joaquim fazia plantões. A cada 10km havia uma unidade de conserva. Deste ponto saia para as rondas e a manutenção. A estrutura era mínima e nos dias de frio a solução era aprontar fogueiras. Para a execução do trabalho tinha que carregar alavancas, garfos (para mexer nas pedras), pás, marretas, macacos e picaretas. Alguns dos instrumentos o ferroviário guardou como parte da própria história. Estes mesmos equipamentos agora servem para contar a história da cidade. As ferramentas estão no acervo permanente do Museu do Agente Ferroviário Anselmo Cargnin.

A função de ferroviário começou através de uma empresa terceirizada. Após três anos e seis meses foi incorporado então pela companhia. Em paralelo, plantava mandioca para completar a renda familiar. Natural de Paulo Lopes, morou também em Tubarão e fixou residência na comunidade de Esplanada, em Içara. Já a maior parte da carreira ficou concentrada entre Esperança e o Centro da cidade. Para percorrer a linha, usava um troller movido com o encaixe de um bastão nos dormentes. “Descer era uma maravilha. Já para subir era um trabalho. Usávamos lubrificação com banha de porco para facilitar”, aponta.

Entre tantos plantões, Joaquim lembra em especial de um que não fez. Para reduzir o pagamento de horas extras, a ferrovia o dispensou da vigia noturna. “Sorte a minha”, conta. É que naquela noite que não precisou ficar de prontidão uma caldeira explodiu na ponte sobre o Rio Esperança. Morreram três pessoas no acidente. “Isto aconteceu entre 1978 e 1982. Eu não me lembro do dia exato. Mas me recordo que depois do fato os trens tiveram o número de vagões reduzidos para entorno de 17”, ressalta.

Nas mais de duas décadas na manutenção da linha, Joaquim viu a máquina a vapor ser substituída aos poucos pela locomotiva à óleo. Também vivenciou a modernização da ferrovia e dos arredores. Aos poucos, alguns dos trilhos deram lugar a estradas. As únicas linhas telefônicas que os trabalhadores usavam para se comunicar com a central foram ampliadas. Além disso, o escoamento da farinha de mandioca, feijão, boiadeiros e ainda o deslocamento das pessoas passou a ser preferencialmente rodoviário. “Ainda acho o trem melhor. Não tem trânsito pelo caminho”, fecha, aposentado desde 1990, o ferroviário Joaquim.