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Economia

Andréia Limas: Pandemia, um ciclone-bomba ou furacão?

Diante dos últimos indicadores econômicos, a pergunta é inevitável: será que o pior da crise já passou?

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Diante dos últimos indicadores econômicos, a pergunta é inevitável: será que o pior da crise já passou? Ou, fazendo uma comparação a eventos climáticos, tão em evidência por aqui, a pandemia de coronavírus representou para a economia um ciclone-bomba, formando-se rapidamente, causando estragos e indo embora logo, proporcionando que a recuperação dos danos iniciasse em seguida? Ou será que está mais para um furacão, com o momento atual assemelhando-se à calmaria típica do olho, após a passagem da forte tempestade, mas antecedendo a chegada de ventos com igual ou maior poder de destruição do que os primeiros? Pois há teorias que apontam para os dois lados – assim como nem sempre há concordância entre os meteorologistas.

Otimismo
Entre os otimistas, que entendem que o pior da crise já foi superado, está a equipe econômica do governo, capitaneada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo ele, o Brasil vai surpreender o mundo, recuperando-se rapidamente tanto da crise de saúde pública quanto da econômica. Essa, no entanto, é uma visão de otimismo extremo. Mais moderada, uma ala dos analistas de mercado até concorda que o país já superou a fase mais difícil, mas entende que a recuperação não será tão rápida e fácil assim.

Crescimento
É um entendimento quase comum que não haverá como a economia crescer ainda este ano – vale lembrar que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro fechou 2019 com apenas 1,1% de crescimento. Mas é possível trabalhar para reduzir os danos e manter o PIB em patamar aceitável, levando-se em consideração todas as turbulências geradas pelo vírus. Para isso, há muitas variáveis, mas a mão do governo será imprescindível.

Variáveis
A retomada da economia passa obrigatoriamente pelo aumento no consumo e o poder de compra das famílias só será garantido com a manutenção dos empregos, daí a importância de políticas como a redução de jornada/salário e a suspensão de contratos de trabalho, com os trabalhadores amparados pelo governo. A garantia de uma renda mínima, como é a proposta do auxílio emergencial, também contribui para que os brasileiros continuem comprando, diminuindo os riscos de recessão ou atenuando seus efeitos. Além dos benefícios ao comércio e ao setor de serviços, o aumento do consumo impulsiona a produção industrial e os investimentos.

Crédito
A liberação de recursos, a possibilidade de renegociar dívidas e tributos e a ampliação na oferta de linhas de crédito também podem ajudar a manter os empregos e a renda, bem como impedir que as empresas fechem as portas. Nessa equação, igualmente é preciso manter baixas as taxas de juros – a Selic está em 2,25% ao ano e a expectativa é de que termine 2020 em 2%.

Agronegócio e exportações
Como já aconteceu em outras ocasiões, o agronegócio também pode livrar o Brasil de um prejuízo ainda maior por conta da Covid-19. Assim, é necessário manter as políticas de crédito e apoio aos produtores, pois com a produção (e o dólar) em alta, a tendência é aumentar o volume exportado. O mercado exterior também é um nicho importante para a indústria.

Números
Essa leitura de que o país já atravessou o pior da crise é alimentada por dados como os apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Eles apontam que em maio houve desaceleração no número de demissões e aumento nas contratações com carteira assinada; crescimento de 13,9% no volume de vendas do varejo, o maior desde o início da série histórica, em janeiro de 2000; aumento de 7% na atividade industrial; recuo de apenas 0,9% no setor de serviços, que amargou quedas significativas em março e abril.

Inflação
Após dois meses seguidos de deflação, os preços no país voltaram a subir e registraram alta de 0,26% em junho, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado na última sexta-feira, dia 10, pelo IBGE. Após as duas quedas consecutivas (0,31% e 0,38% em abril e maio, respectivamente) e com o aumento de junho, o IPCA acumula alta de 0,10% no ano e de 2,13% em 12 meses. O registro de inflação pode ser mais um indício de reaquecimento da economia – o consumo em baixa não costuma elevar os preços.

Pessimismo
Como mencionei no início, está longe de haver unanimidade nas análises sobre o comportamento da economia brasileira e as projeções para os próximos meses. Existem aqueles que apostam num desempenho bem pior, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que trabalham com uma queda de 9 a 10% no PIB do Brasil.

Meio-termo
Outra ala prefere o meio-termo, sem comemorar os últimos números da economia como uma vitória, nem entender que o pior da crise ainda está a caminho. Para esses, não haverá como evitar o encolhimento do PIB, mas a queda também não será de 10%. Conforme o Boletim Focus, divulgado na última segunda-feira, dia 12, pelo Banco Central, por exemplo, os economistas do mercado financeiro estimam que o PIB terá uma retração de 6,10% este ano.

Fator surpresa
Qualquer cenário, entretanto, poderá ser mudado por um fator surpresa, como a necessidade de um novo período de quarentena e restrição nas atividades, provocada por uma nova onda de contaminação por Covid-19. Nesse caso, os efeitos à economia serão devastadores. Possivelmente, o maior furacão a atingir o país.