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Economia

Félix Pizzetti, um alfaiate de mão cheia

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“Chego a sonhar que estou fazendo um paletó”, relata o aposentado Félix Pizzetti, de 76 anos. Com as tesouras, fitas métricas e tecidos durante 45 anos, ele dedicou a vida à função de alfaiate. Foi somente há cinco anos que deixou a profissão que tanto amou para descansar. Embora tenha parado de trabalhar, ele destaca que não se esquece dos bons anos que esteve na atividade.

O trabalho não teve influência dos pais ou de tios. Foi uma obrigação. “Surgiu devido a necessidade de não poder trabalhar debaixo do sol, na roça, como os demais integrantes da família faziam. O que hoje é o Jardim Silvana, era praticamente quase que toda terra de nossa família. Uma vez nós estávamos trabalhando na roça, colhendo milho, e me deu uma baita dor de cabeça. Meu pai me levou ao médico que disse que era para eu trabalhar apenas na sombra. Como gostava de arrumar roupa, optei por ser alfaiate”, recorda Pizzetti.

Na época com 17 anos, a primeira experiência como alfaiate foi em uma empresa de Morro da Fumaça onde atuou por cinco anos até montar o próprio negócio. “Vim para Içara porque meus pais moravam aqui, o que facilitava muito. Cheguei a ter cinco empregados para ajudar na confecção das roupas. Aqui em Içara todo mundo ia fazer roupa comigo, porque não existia loja com roupas prontas. Fiz curso em São Paulo e na época até me convidaram para ficar lá, mas acabei recusando. Foram anos de luta, dá muita saudade”, comentou.

Um terno sob medida levava em média dois dias para ficar pronto. “Quando tinha baile do Ipiranga como o de debutantes, eu chegava a fazer 50 smokings. Era muito trabalhado, não tinha sábado, domingo e feriado. Quando chegava a descansar um domingo parecia que eu estava no céu”, fala entre sorrisos. Em sua alfaiataria as mulheres também tinham vez. “Fazíamos terno e blazer para mulher. Era feito de tudo”, revelou.

Seu Félix ainda guarda algumas recordações da época em que cumpria essa profissão, incluindo uma tesoura. Esse instrumento ele deixa conservado com carinho em sua residência, já que além de ter exercido a função com a tesoura durante vários anos, ganhou-a de um amigo. “É um tipo de tesoura que você não acha mais hoje. Tem o melhor aço do mundo, tanto que ainda não perdeu o niquelado. Acho que quando eu morrer vou levar ela comigo no caixão”, brincou.

“Não tem como você comparar uma roupa sob medida com uma comprada pronta. No caso da comprada, a gente acha que está bom porque não enxergamos os erros. É muita coisa fora do esquadro. Já às feitas sob medida você não vê nada”, finaliza. Sobre os motivos pelo qual a profissão de alfaiate está se perdendo, não só na família dele, mas assim como em outras, ele argumenta a falta de interesse dos mais novos. “Ninguém mais se interessou em aprender essa profissão”, declarou.

Em paralelo aos serviços de alfaiataria, Felix Pizzetti também cumpriu a função de vereador, cargo que exerceu em Içara durante 12 anos, pelo PDS/Arena, entre os anos de 1977 e 1988, época em que não havia remuneração. “Sempre conciliei o serviço de alfaiate com o de vereador. Trabalhava de graça, por amor à camisa, por amor a Içara, a gente trabalhava por ser filho dessa terra. O que me lembro é que naquela época eu ganhava um tanque de gasolina por mês, isso porque levava, de fusca, muita gente para Florianópolis”, contou.