Esportes | 19/07/2012 | 08:21
“O futebol muda muito”, diz Silvio Criciúma
Carlos Rauen - carlos.rauen@canalicara.com
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Esta quinta-feira é o Dia Nacional do Futebol (19 de julho). A data foi escolhida pela CBF para homenagear o primeiro time registrado no Brasil, o Sport Clube Rio Grande, fundado em 1900. Para tratar do esporte que virou paixão nacional, o Canal Içara foi em busca de um desportista de destaque. E a opção foi então o ex-zagueiro do Tigre e atual auxiliar técnico do clube, Sílvio Criciúma.
Em entrevista ao portal, ele relembrou as histórias vividas no futebol e falou sobre o atual momento do Tigre. Falou inclusive do título da Copa do Brasil. Além disso, revelou os momentos de fraqueza. “Digamos que eu tentei fugir por conta da família, de ficar mais em casa, de até sair do futebol. Eu pensei isso nos meus últimos anos como atleta. Futebol é muito bom na vitória, mas é muito doido na derrota. É muita pressão”, afirma.
A estreia de Silvio como jogador profissional ocorreu no Ferroviário. E o primeiro jogo foi aos 16 anos, em Criciúma, contra o Prospera. Depois conseguiu espaço na base do Tigre e por ali ficou durante dois anos. “Lá no meu tempo não era como hoje que um atleta da base se destaca e já atua no profissional e é vendido. Era bem diferente. Os atletas tinham que se destacar na base para depois de estourar a idade conseguir um lugarzinho entre os profissionais”, lembra.
“Participei daquele grupo Campeão da Copa do Brasil de 1991 de forma muito discreta, compondo o grupo. E a minha primeira atuação foi em 1992, ano da Libertadores. Fiz um jogo na Série B e fiquei alguns jogos no banco na Libertadores. E teve um gosto melhor porque eu estava no Criciúma, melhor equipe do estado e que estava bem no cenário nacional”, completa. Confira na íntegra a entrevista:
Sílvio, como você começou no futebol? Quem te incentivou nesse esporte?
Não foi de família. Não tem ninguém da família que fosse atleta pelo menos. Foi um gosto próprio, tive incentivo da mina família. Da minha mãe principalmente, perdi meu pai muito cedo. Comecei a jogar futebol em Tubarão. Tem uma pessoa muito especial, chamado José Sabino dos Santos que hoje ainda treina os garotos na cidade de Tubarão e que me aconselhou muito, me ensinou bastante. Fez às vezes até de pai. Ele foi responsável pelo meu início. Lá pelos 12, 13 anos, me ensinando as funções táticas. E fui passando ano a ano no Ferroviário (extinto clube de Tubarão, até jogar no profissional com 16 anos e vir para base do Criciúma e seguir minha vida.
E o apelido Sílvio Criciúma, quando surgiu?
Fui batizado de Sílvio Criciúma seis anos após eu me profissionalizar. Quando eu entrei na base era somente Sílvio, quando me profissionalizei era somente Sílvio. Do Criciúma fui para o Figueirense e fiquei seis meses e fui para o Goiás. E lá tinha outro Sílvio, jogador de Seleção Brasileira, então meu nome tinha que ser diferenciado. E aí fui batizado pelo diretor do futebol na época por eu ter jogado cinco anos aqui no Criciúma. E o Criciúma tinha passado um momento muito especial naquela época com o título da Copa do Brasil, Libertadores, tinha o Paulinho Criciúma que ainda atuava e naturalmente pegou o Sílvio Criciúma.
O que fazer parte do elenco Campeão da Copa do Brasil agregou em sua carreira?
Experiência adquirida com pouca idade e para você ter uma ideia eu não tive oportunidade ao longo dos meus 18 anos de profissional, como atleta, de atuar em outra Libertadores e de decidir outra Copa do Brasil. Joguei a Copa do Brasil outras vezes, mas chegar na final e ser campeão não aconteceu. Volto a dizer, não participei de nenhuma partida daquele titulo, mas valeu a experiência, valeu o fato de estar convivendo com jogadores de muita história e me enriqueceu no início de carreira para ter experiência já no começo.
Além do Criciúma qual foi o clube em que você mais se destacou?
No futebol você marca conquistando títulos. Participei de forma discreta na Copa do Brasil de 1991, três títulos estaduais, e o Brasileiro da Série C que foi meu retorno a Criciúma em 2006. Mas o titulo de maior expressão pra mim. Participando efetivamente foi a Série B pelo Goiás em 1999. Lá eu atuei por cinco anos. Cinco anos de muitas conquistas: quatro estaduais, duas copas regionais e esse título da Série B. Que o único título nacional foi essa Série B. Ficou marcado na história. Fui capitão durante esses cinco anos no Goiás e fiquei marcado como o capitão campeão.
Houve alguma resistência da torcida do Figueirense quando você trocou o Criciúma pela capital?
O Figueriense, de 1996, assim como o Avaí, eram times que estavam na capital, mas que não pagavam seus atletas, times que não chegavam para conquistar, então eram equipes que estavam bem abaixo de Criciúma e Joinville. Minha saída foi normal. Fui envolvido em uma troca. Para mim não foi uma coisa boa na época. Mas depois eu vi que foi um passo para trás que eu dei para dar dez para frente. Até então no Criciúma eu estava tendo certo desgaste. Ajudando a equipe, mas não tendo reconhecimento.
Você voltou para o Tigre e conquistou a Série de 2006, mas acabou rebaixado em 2008, valeu a pena?
Vale muito a pena. Infelizmente não terminei minha carreira da forma que eu pensava por outros motivos. O meu retorno ao Criciúma que eu saí da Portuguesa e vim para jogar uma Série C. Ali eu abri mão de uma condição financeira melhor em outros clubes. Mas eu fiz uma opção de voltar para casa, para perto da família e não me arrependo por isso. Felizmente aconteceu o título daquela Série C em um momento delicado do time. Voltamos a Série B, mas em 2008 houve novamente a queda que foi meu ultimo ano no Criciúma. Em um ano eu não atuei dez jogos eu acho. Por opção de um treinador que chegou e achou que eu não tinha condições de vestir a camisa de titular. Aquilo ali me doeu muito. Eu via aquele time de 2008 disputando a Série B e caindo a cada rodada e eu não pude fazer nada.
Sílvio, a campanha na Série B de 2007 e a atual do Criciúma começaram bastante parecidos. O Tigre em 2007 disparou no início da competição, mas acabou na metade da tabela. O que fazer para que o fato não se repita?
O futebol muda muito da noite para o dia. Ao final do turno todos davam como certo uma vaga para o Criciúma. Nós fizemos 36 pontos, dos 19 jogos restantes eram dez fora e nove em casa e só precisávamos ganhar os nove em casa e pela campanha que fizemos era dado como certo uma vaga para o Criciúma. No futebol assim como na vida tem momentos bons e momentos ruins. Esse Criciúma de agora está tendo essa felicidade de conquistas, através de um grupo novo que foi formado conseguindo os resultados. Mas tem que estar preparado porque a hora ruim vai acontecer. Isso aí é inevitável. Um time vive de boa e má fase. O Criciúma está vivendo da boa fase. O interessante é que essa pontuação que está sendo feita, essa identificação dos atletas, a amizade e a união que está acontecendo fortaleça para atravessar o momento ruim quando aparecer. Em 2007 não tivemos essa situação, na fase ruim aconteceram muitas coisas dentro do clube que deixaram o clube cada vez mais para baixo.
Este ano você assumiu como técnico do Criciúma, como foi essa experiência que chegou a ter cinco vitórias consecutivas, mas terminou com cinco derrotas seguidas também?
Em dois meses eu tive experiências para dois anos. Como auxiliar técnico assumi a equipe para um jogo e fiquei 14. Se fiquei 14 é porque as coisas estava acontecendo de maneira positiva. Infelizmente na hora decisiva, e no futebol se vive muito do momento decisivo, em dez dias nós tivemos três, quatro jogos decisivos e nesse momento de decisão aconteceram problemas de relacionamento que acabou afetando. Os jogos eram sequencias e o tempo de treinamento diminuiu consideravelmente. Infelizmente perdemos as decisões. Eu sentia que o clima estava muito favorável para que a gente classificasse entre os quatro no Catarinense. Mas os problemas aconteceram na fase decisiva e muito rapidamente perdemos os jogos que nos tiraram do Campeonato Catarinense e da Copa do Brasil. Futebol é assim, céu e o inferno é muito próximo. Você tem que estar preparado para decidir. Infelizmente na hora que foi decidir nós não tivemos o mesmo clima que estava tendo em dias anteriores.
O que você contribuiu e ainda contribui para o futebol do Criciúma?
Como atleta eu participei de conquistas e isso é importante. Futebol você tem que marcar no clube. Na função de auxiliar técnico, infelizmente o resultado final não foi bom. Mas o Criciúma viveu nos últimos anos uma instabilidade em relação a treinadores. Contratavam treinadores da noite para o dia. Eu acho que o futebol tem que ser mais calculado. Essa minha função deu este suporte para o clube. De demitir o treinador em um dia e esperar o momento certo para contratar o outro porque tem um profissional que possa fazer a função. Para mim serviu muito e quando acontecer de novo eu estarei melhor preparado para ajudar o Criciúma.
Para finalizar, Sílvio Criciúma deseja ser treinador de futebol?
Isso aí vai acontecer naturalmente. Não sou de apressar as coisas. Digamos que eu tentei fugir por conta da família, de ficar mais em casa, de até sair do futebol. Eu pensei isso nos meus últimos anos como atleta. Futebol é muito bom na vitória, mas é muito doido na derrota. É muita pressão. Tem atletas e treinadores que vivem de um jeito. Que conseguem diferenciar o momento de pressão. Perdeu, vai embora e relaxa. Eu não estou nesse perfil, sempre comemorei muito a vitória, mas senti muito a derrota. Dizem que o futebol é uma cachaça. Um vício, um bom vício logicamente. Por mais que eu tentei sair do futebol eu não consegui. As oportunidades de trabalho surgem para mim no futebol. Então é um caminho natural, mas tudo tem o seu tempo para acontecer.
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