Skatistas solidários presentearão crianças

O primeiro skate do estudante Gabriel Hardt, de 14 anos, foi montado por ele mesmo em 2010, após ter ganhado todas as peças separadas de diferentes amigos skatistas. Há dois dias, ele conseguiu comprar um skate novo e pronto, e fez a mesma boa ação: doou parte do skate antigo para um menino que precisava.

“Sempre na humildade, os skatistas se ajudam trocando peças usadas e ajudando quem não pode. Assim como me ajudaram, eu ajudo também”, comenta o garoto. É com esse espírito de solidariedade que dezenas de skatistas em Criciúma e em Torres estão angariando peças de skate que não vão mais usar para doar a crianças carentes que sonham em ter um, mas que não têm condições financeiras de comprar.

Depois que as peças forem coletadas, os skates serão montados pelo próprio idealizador dessa inédita campanha, o empresário skatista Richard de Lucca, que tem uma loja de artigos do ramo no Centro da cidade. Ele conta que, com ajuda de um amigo, quer montar pelo menos 30 skates, dando uma aperfeiçoada nas peças, reformando, aperfeiçoando e colaborando com a doação de parafusos e rolamentos, que, por enquanto, não têm sido doados para a campanha.

A ideia surgiu quando o empresário percebeu que vários jovens se interessavam pelo esporte, mas não tinham a oportunidade de aprender por não terem um skate decente. “A loja vende muito bem no Dia das Crianças, então pensamos: por que não ajudar quem não tem condição de comprar? Para quem não tem nada, um skate, mesmo montado com peças usadas, é muita coisa”, comenta De Lucca.

Um skate é composto de oito partes: amortecedores, rodas, rolamentos, parafusos, lixa, trucks (eixos), mesa (base) e shape (tábua). Qualquer uma dessas peças pode ser doada diretamente na loja De Lucca Surf Skate Shop, atrás do Shopping Della, no Centro de Criciúma, das 9 horas às 18h30min, até o dia 11 de outubro, quando os skates serão montados. “Não é para a loja essa campanha, a gente não ganha nada com isso. O que queremos é tocar o coração da comunidade para realizar sonhos de crianças no dia 13”, argumenta o empreendedor.

O estudante Hardt também já doou um shape para a campanha. “Desde que tive meu primeiro skate com peças doadas, já participei de diversos campeonatos. Ainda não ganhei, mas estou treinando todos os dias, e meu sonho é ser um skatista profissional”, conta Gabriel. A solidariedade está dando certo. Anunciada há poucos dias, já foram mais de 25 skatistas que doaram shapes, rodinhas e até tênis.

Richard explica que tênis de skatista dura pouco tempo porque desgasta bastante com atrito entre a sola, o shape e até o próprio chão da pista. O shape de um skatista que pratica diariamente também tem tempo curto de utilidade, precisando ser trocado pelo menos uma vez por mês. Com as peças doadas até ontem, Richard acredita que já podem ser montados quinze skates completos. Os demais itens que sobrarem serão repassados às crianças individualmente também como presentes.

O empresário explica que o preço de um skate novo varia de R$ 140 a R$ 300. “Se fôssemos comprar skates novos para doar, seria um investimento de R$ 2,1 mil a R$ 4,5 mil”, aponta. Essa ação social acontece ao mesmo tempo em Criciúma e também em Torres, no norte do Rio Grande do Sul, onde há outra loja da mesma rede, além de estar sendo divulgada e compartilhada nas mídias sociais da Internet, onde está sendo chamada de “Social Skate”.

Quem escolhe as crianças a serem beneficiadas é uma equipe de voluntários da igreja evangélica Restauração Profética. Em parceria com a loja, o pastor da igreja está organizando a lista de crianças realmente necessitadas que curtam o skateboarding. As doações serão entregues no próximo dia 13, sábado.

Andar de skate ainda é encarado com preconceito por muitas pessoas, afirma Richard, mas que já foi pior. “Cada vez mais, as pessoas estão desassociando do skate a questão da marginalidade, principalmente com ajuda da mídia, que mostra campeonatos e cases de sucesso de esportistas”, pondera Richard. O skate teve sua origem nas ruas e foi se aperfeiçoando com o tempo. Hoje em dia, ele também reflete um estilo de vida, tanto nas roupas quanto nas atitudes, como essa de solidariedade uns com os outros.